Se cultivar árvores silvestres é um negócio complicado, lidar com os humanos na Amazônia é ainda mais complexo.
Em todo o mundo, a violência e as ameaças são comuns para os ambientalistas que trabalham para preservar a vida selvagem e o habitat. Mais de 200 são mortos anualmente, de acordo com o grupo de vigilância Global Witness. O Brasil ficou em 3º lugar em sua lista em 2021, com 26 mortos.
A Rioterra suspendeu o plantio de árvores na reserva florestal protegida pelo Estado onde Milton da Costa foi ameaçado. A extração ilegal de madeira e a pecuária têm proliferado lá.
A Black Jaguar também busca evitar problemas. Os agricultores hostis aos seus esforços não são pressionados a participar.
Alguns produtores ficam desconfiados, mas estão dispostos a ouvir, disseram as organizações sem fins lucrativos. O motivo: a legislação ambiental brasileira.
O Código Florestal, que dita quanta área florestal pode ser legalmente desmatada, estava de alguma forma registrado desde a década de 1930, mas era amplamente ignorado em áreas remotas da Amazônia.
Uma revisão de 1996 intensificou a proteção da Amazônia ao exigir que pelo menos 80% da maioria das propriedades da região fossem preservadas. Outras mudanças em 2012 dispensaram multas e a proibição da produção agrícola contra agricultores que destruíram florestas ilegalmente se concordassem em adequar suas propriedades ao reflorestamento ou compra de terras virgens para conservação.
Alguns ambientalistas ficaram furiosos com a anistia, que continua em vigor. A destruição ilegal segue generalizada, principalmente em terras públicas.
Ainda assim, a maioria das grandes fazendas comerciais têm respondido aos incentivos para se tornar limpa. Os bancos não estão autorizados a conceder empréstimos a agricultores que violem o Código Florestal, de acordo com o Banco Central. Da mesma forma, grandes comerciantes de soja em 2006 se juntaram ao governo e à sociedade civil em um pacto chamado Moratória da Soja na Amazônia, que proíbe as empresas de commodities de comprar de fazendas com desmatamento recente.
O Código exige que os agricultores brasileiros restaurem coletivamente entre 56.700 quilômetros quadrados e 181.700 quilômetros quadrados de floresta, uma área quase tão grande quanto a Síria, de acordo com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa exigência legal ajudará muito o Brasil a cumprir seu compromisso de reflorestar 120.000 quilômetros quadrados até 2030 sob sua meta climática do Acordo de Paris.
“O Brasil está milhões de quilômetros à frente da grande maioria dos outros países” em termos de estrutura de reflorestamento, disse Cristina Banks-Leite, ecologista tropical do Imperial College de Londres.
Mesmo assim, Valks e a Black Jaguar enfrentam uma tarefa difícil: o corredor ecológico que ele sonha em construir contém terras pertencentes a mais de 13.000 proprietários privados que precisam ser convencidos.
Ele começou em Santana do Araguaia, uma cidade de cerca de 45.000 habitantes no sul do Pará, de onde já havia saído em busca da onça-preta e viu uma floresta tropical devastada.
Seu primeiro negócio lá foi com Marcos Mariani, um raro agricultor que fala abertamente sobre questões ambientais. Quando não estava cultivando soja e gado na operação de 577 quilômetros quadrados de sua família em Santana do Araguaia, Mariani fez campanha contra a pavimentação de estradas adicionais na Amazônia que abririam novas áreas para o desmatamento.
Mariani disse que ficou intrigado com a proposta de Valks. “Eu achei ótima a ideia dele e falei que tudo o que for com respeito à conservação, nós temos interesse de apoiar”, afirmou o agricultor.
Os dois assinaram um contrato. A Black Jaguar comprometeu-se a construir um viveiro de árvores na propriedade de Mariani, fornecer todo o know-how técnico e monitorar a área por décadas para garantir que ela renasça. A organização sem fins lucrativos finalmente plantou mudas em 170 hectares ao longo de pequenos riachos na propriedade.
Rapidamente se espalhou a notícia de que algum projeto de árvore havia chegado à cidade, segundo Tânia Irres, que trabalha na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santana do Araguaia. Ela disse que alguns moradores locais opinaram que uma ONG fundada por um estrangeiro destruiria seus meios de subsistência. Outros imaginaram que, se forasteiros estavam presenteando com mudas e mão-de-obra, por que não aproveitar?
“É uma cidade pequena, todos se conhecem”, disse Tânia Irres.
Ela ajudou a conectar a Black Jaguar com mais alguns fazendeiros, incluindo Clovis e Regina Molke, produtores de soja e pecuaristas que buscam se adequar às leis ambientais. Apoiador de Bolsonaro, o casal inicialmente ficou cético em relação a esses ambientalistas, mas as árvores gratuitas eram tentadoras demais para deixar passar.
A Black Jaguar disse que plantou 54.000 mudas na propriedade de Molke entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, depois replantou algumas em 2022 que foram perdidas em uma enchente. Os sombreiros de rápido crescimento já atingem 3,5 metros de altura.
“Quem sabe daqui três anos vejo tudo fechado com grandes árvores vistosas e bonitas”, disse Clovis, cuja família é proprietária de terras agrícolas em vários Estados brasileiros.
Essas vitórias iniciais levaram a acordos com outros agricultores. Ao todo, a Black Jaguar assinou contratos com 26 fazendas e plantou 326 hectares até o momento. A organização sem fins lucrativos pretende que a próxima temporada de plantio, que termina em abril de 2024, seja a maior até agora, com 500 hectares adicionais restaurados.